terça-feira, 20 de setembro de 2011

Arqueologia computacional


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 19 de Setembro de 2011


A pouco e pouco, com a popularidade das séries televisivas de investigação criminal, o público em geral começa a aperceber-se do enorme potencial que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm no que diz respeito à reconstituição do passado. E porque é sobre o passado que se debruçam a Arqueologia e a História, também aqui as TIC desempenham um papel cada vez mais importante. Há, no entanto, boas e más utilizações das TIC nestas matérias, embora, felizmente, as primeiras sejam muito mais frequentes que as segundas.

As ferramentas computacionais podem suportar quase todas as áreas da Arqueologia e da História, como sejam a procura e exploração de sítios arqueológicos, o registo da evolução de escavações, o estudo e análise de locais, edifícios, artefactos, obras de arte e relíquias, a reconstituição e restauro de objetos, a troca de informação entre especialistas, a formação e, ainda, a divulgação ao grande público, quer em museus quer através da Internet.

O recurso a modelação 3D permite, por exemplo, a visualização de artefactos sob todos os ângulos, a comparação de formas, a visualização imersiva de locais arqueológicos antes e depois de reconstituição ou, ainda, a extração de contornos e/ou desenho de linhas, tão importantes no estudo arqueológico. A modelação, 3D ou 2D, é, também, um precioso auxiliar na reconstituição e restauro de artefactos, pinturas, locais arqueológicos e paisagens.

Por outro lado, a constituição de repositórios digitais contendo não só imagens mas também todo o tipo de dados permite a catalogação e indexação de objetos, bem como a subsequente análise e mineração de dados, quer por processos automáticos quer manuais. Estes repositórios assumem particular importância se estiverem disponíveis, através da Internet, a especialistas, que podem executar todo o tipo de estudos e ensaios sem causar qualquer tipo de dano aos objetos em estudo.

De entre a multiplicidade de tecnologias utilizadas na arqueologia computacional, destacam-se a tomografia computorizada, os scanners 3D (quer com base em dados sísmicos – tal como se faz na prospecção de petróleo – quer com base em técnicas óticas) a computação gráfica, as ferramentas matemáticas, os sistemas de informação geográfica e os sistemas de posicionamento.

Como aspecto negativo da utilização das TIC nestes domínios, salienta-se a pressão para realização de estudos antropológicos de figuras proeminentes da História – por exemplo, para determinar estaturas, tipos de alimentação, analisar possíveis fraturas, ou proceder a sempre duvidosas reconstituições faciais – não porque exista alguma razão objectiva e científica para realização desses estudos, mas sim para alimentar uma quase coscuvilhice em relação a “famosos” do passado, um pouco à laia de “reality show” retroativo. São, claramente, estudos a evitar, já que qualquer povo só se pode respeitar a si próprio se dignificar e respeitar o melhor do seu passado.

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